Diretor de Tecnologias Digitais da CNH Industrial América Latina, Riordan aborda o panorama da conectividade no agronegócio e as expectativas para os próximos anos.
Brasil – Com vasta experiência prática no campo de agricultura de precisão e conhecimento de soluções tecnológicas para maquinário e infraestrutura agrícola, Gregory Riordan é diretor de Tecnologias Digitais da CNH Industrial América Latina, por onde faz parte da associação ConectarAGRO, cujo principal objetivo é implantar a conectividade nas áreas rurais do Brasil e promover a Agricultura 4.0.
Com a topin, conversa sobre o andamento e planos para a transformação digital do campo, tecnologias digitais capazes de ajudar produtores rurais, o papel da ConectarAGRO em relação a esse desenvolvimento, benefícios da implantação de redes de 4G e 5G e expectativas para a adoção de Inteligência Artificial (IA), sensoriamento, robótica, estações climáticas e Internet das Coisas (IoT) nas fazendas.
topin: Como está o cenário atual de implantação do 5G no agronegócio?
Gregory Riordan: A implantação do 5G, tanto no agro quanto na cidade, ainda está em fase bem inicial. O leilão do 5G acabou de acontecer e foi concluído há alguns meses. Foram leiloadas as frequências que serão utilizadas no Brasil, que foram distribuídas entre as operadoras, inclusive algumas novas. O que existem são alguns projetos-pilotos que estão sendo implementados como prova de conceito e estímulo.
topin: O que precisa ser superado para haver maior adoção desta tecnologia? Como ela poderia ser adotada?
Gregory Riordan: Pensando no agronegócio, existem algumas questões de infraestrutura básica, necessárias para implantar e expandir qualquer tipo de “G” no campo. O primeiro ponto é a fibra óptica chegar até os municípios; ainda existe um gap muito grande na disponibilidade de conexão de dados nesses locais.
O segundo ponto é expandir a conectividade no meio rural. Cada operadora tem seu modelo de negócio para levar infraestrutura para as regiões, mas a questão é achar um modelo de negócio que viabilize o projeto. O principal driver das operadoras sempre foi a quantidade de usuários que vão assinar mensalidades ou planos para poder viabilizar a adoção da conectividade. Esse é o desafio do meio rural, onde há uma concentração menor de pessoas se comparado com os centros urbanos.
Discutimos frequentemente esse tema no ConectarAGRO, associação da qual a CNH Industrial faz parte, o que é um dos diferenciais da iniciativa, pois começamos a encontrar esse modelo de negócio, que permite o avanço da conectividade pública no meio rural.
topin: Você pode dar alguns exemplos de soluções criadas para solucionar os desafios da conectividade no campo?
Gregory Riordan: Podemos citar o Opere+, um aplicativo gratuito de gestão e monitoramento das operações agrícolas da CNH Industrial, que fornece informações úteis de funcionamento e performance das máquinas diretamente na palma da mão. Com poucos toques na tela do smartphone, o agricultor já inicia a operação e tem instruções, em tempo real, de como melhorá-la, mesmo em áreas onde não há internet.
É o primeiro aplicativo que democratiza a agricultura digital para pequenos produtores: oferece informações de forma simples, sem necessidade de interface física com a máquina, faz uso de sensores já existentes no smartphone do produtor para monitorar e informar o comportamento da operação agrícola e pode funcionar de forma totalmente off-line quando não houver conectividade.
Toda solução que utiliza a conectividade para trazer uma melhor experiência ajuda a viabilizar a própria conectividade, pois vira uma nova ferramenta e um novo serviço que pode ser comercializado por meio das redes existentes, sejam 4G ou 5G.
topin: Como o 5G pode ajudar produtores na prática? Por que é uma tecnologia necessária para a agricultura de precisão e máquinas de Internet das Coisas (IoT)?
Gregory Riordan: Na verdade, hoje o 5G não é uma tecnologia que vai muito além das aplicações agrícolas da atualidade. O que vislumbramos com o 5G são duas coisas: a primeira é uma capacidade de transmissão muito maior para as futuras aplicações como, por exemplo, um trator autônomo se conectar o tempo todo com ferramentas de transmissão, como vídeos, para ver o que está acontecendo à sua volta. O 5G pode se tornar uma tecnologia diferenciada, que permita esse tipo de aplicação pela banda, pela capacidade de transmissão.
A segunda é uma latência muito menor, ou seja, haverá ganho na redução do tempo em que o sinal demora para chegar. Em algumas aplicações que precisam de uma resposta imediata, esse é um detalhe crítico. Na medicina, por exemplo, em que não pode haver atraso no sinal, o 5G vai garantir melhores resultados em uma cirurgia remota.
Atualmente o 4G atende muito bem a 99% das aplicações que temos hoje para os próximos cinco anos de tecnologia que utiliza conectividade rural. No entanto, é muito importante a vanguarda do Brasil na implementação do 5G, que acontece quase no mesmo momento em que outros países, para termos a capacidade e a competência de desenvolver essas redes e as soluções de uma forma muito mais equilibrada e no mesmo nível dos demais mercados.
O Brasil demorou para desenvolver a conectividade de celular no país. Entramos muito atrasados nisso, mas depois evoluímos muito rápido. O 5G vai abrir portas para experimentar e testar tecnologias, novos conceitos, sair na frente e antecipar tendências. Com ele, vamos poder testar de imediato o que funciona ou não e saber o retorno que o produtor terá com as inovações.
topin: É possível beneficiar não só a produção, mas as comunidades em torno de uma propriedade com a implantação de redes privadas 5G? Quais seriam as vantagens?
Gregory Riordan: Sim, e já estamos vendo isso com o 4G por meio do ConectarAGRO. A conectividade pública traz muitos benefícios para a região, ela não se limita às fazendas, comunidades e rodovias acabam sendo cobertas, e ficam disponíveis para todos que ali trabalham e vivem.
Sabemos o quanto a conectividade é importante para escolas, empresas, logística, segurança, entre outros. No caso do 5G, será a mesma coisa, a implementação vai trazer esses benefícios com os adicionais: capacidade de transmissão muito maior e latência muito menor.
topin: O que soluções como estações climáticas e sensoriamento podem fazer para impulsionar a produtividade no campo? É possível citar alguns casos de uso?
Gregory Riordan: As informações climáticas, como chuva, temperatura, umidade, vento, entre outras, são extremamente importantes para as tomadas de decisão na agricultura — quando plantar, irrigar, pulverizar ou colher. Acompanhar essas informações das grandes propriedades era um grande desafio, mas hoje já temos muitas soluções.
Fazendas conectadas são capazes de automatizar todo esse processo e acompanhar as informações em tempo real por meio de sensores que, com algoritmos, agem como se fossem robôs nas tomadas de decisão. Por exemplo: decisão crítica de uma pulverização, controle de planta daninha ou de pragas, o que precisa ser feito naquele momento.
Tempo é o fator-chave na agricultura. A demora, o atraso para realizar uma aplicação corretiva, dependendo do tempo e da situação, pode representar uma perda de 10 a 50% na produção. Então é extremamente importante que essas tomadas de decisão aconteçam o mais rápido possível. Isso já dá uma ideia do quanto essas soluções podem impactar ou impulsionar a produtividade e, consequentemente, a rentabilidade do campo.
A CNH Industrial oferece diferentes soluções com esse foco. Um bom e atual exemplo são os sensores da Augmenta, empresa que o grupo acabou de adquirir. Eles são instalados em cima das cabines de tratores e pulverizadores, medindo, em tempo real, a saúde das lavouras.
Nos pulverizadores, esses sensores ajudam nas tomadas de decisão: fertilizar ou não, aplicar um determinado produto de controle de algum tipo de situação ou doença da planta ou não. Essas aplicações, quando conectadas à internet, consultam, em tempo real, o banco de dados e ajustam automaticamente a aplicação, com economia de até 30% no uso de fertilizantes. Trata-se de uma questão importante no momento atual, em que há escassez de fertilizantes pelos problemas logísticos e conflitos entre Rússia e Ucrânia, o que tem limitado sua exportação.
topin: Algumas empresas já apresentam robôs ligados a plataformas de análise de dados, IA e controle remoto para serem usados em diversas culturas. Como isso pode beneficiar a produção e o que é possível esperar dessas tecnologias até o fim da década?
Gregory Riordan: A autonomia e a robotização são tendências fortes. Globalmente temos a limitação de mão de obra qualificada; muitas vezes, uma determinada operação não é feita por falta de operadores. A robotização ajuda a solucionar essas faltas e a reduzir essas perdas. E a capacidade de fazer as operações de forma automatizada, por meio de robôs, garante a qualidade e o melhor potencial do cultivo.
A grande vantagem da robotização é conseguir realizar todas as aplicações necessárias dentro de um padrão de qualidade esperado, mesmo quando a gente tem situações de restrição de mão de obra. Outros benefícios são a produtividade e o ganho de tempo. Os robôs podem trabalhar 24 horas por dia e realizar a aplicação no momento exato em que o sistema de inteligência indicar necessidade. Na robotização, o intervalo de tempo entre o diagnóstico e a aplicação é o mínimo possível.
A CNH Industrial tem feito importantes investimentos em automatização e robotização. A recente aquisição da Raven, empresa norte-americana líder em tecnologia de agricultura de precisão e referência em sistemas autônomos, é um exemplo. A ideia é expandir nosso portfólio de soluções em todas as regiões onde atuamos.
ConectarAGRO
A CNH Industrial é uma das fundadoras da ConectarAGRO. A associação sem fins lucrativos reúne hoje mais de 30 empresas diferentes — entre elas Bayer, Nokia, Solinftec, TIM e Trimble — para, de forma colaborativa e aberta, resolver uma das importantes dores do produtor e empresas do setor agrícola: a falta de conectividade no campo (segundo o Ministério da Agricultura, cerca de 73% do total de propriedades rurais no Brasil não são conectadas).
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A ConectarAGRO busca também incentivar e promover a inclusão digital rural, ajudando a levar treinamento e capacitação para as pessoas, além de soluções para que o produtor tenha acesso às tecnologias atualmente disponíveis, como agricultura de precisão, autonomia, IA, IoT, drones para mapeamento do campo e muito mais.
Fundada em 2020, a associação já ajudou a levar conectividade 4G, na frequência de 700 MHz, para mais de 7 milhões de hectares de áreas rurais e remotas em todo o Brasil. São mais de 55 mil propriedades rurais conectadas, com benefício de mais de 900 mil pessoas e cobertura para mais de 25 mil quilômetros de estradas e rodovias, além de 140 escolas públicas e 31 unidades básicas de saúde em áreas rurais.