O responsável pelo Desenvolvimento de Negócios da Nokia fala sobre os benefícios da implantação de redes privadas de 5G para empresas.
Brasil – Responsável pelo Desenvolvimento de Negócios em Segmentos Verticais da Nokia na América Latina, Renato Bueno também lidera o Comitê de Expansão da associação ConectarAgro, cujo principal objetivo é promover a transformação digital no agronegócio brasileiro. Além disso, ele tem mais de 15 anos de experiência com startups e diferentes posições em setores de Marketing.
Em sua conversa com a topin, aborda as vantagens e o panorama atual da implantação de redes privadas de 5G em ambientes industriais, como ela é realizada, o que é necessário para fazer a transição de redes cabeadas para o wireless, aplicações de 5G+ e exemplos de setores largamente beneficiados pela tecnologia de conectividade de quinta geração.
topin: Quais são as vantagens da implantação de uma rede 5G em um ambiente industrial? O que essa conectividade pode habilitar?
Renato Bueno: As indústrias, em seus mais variados segmentos, desde a produção de eletrônicos até produtos químicos ou alimentos e bebidas, têm vivido um processo intenso de transformação digital. Essa digitalização tem por objetivo:
- Maior eficiência ao negócio: produzir mais com menor custo, menor desperdício e menor consumo de energia e matéria-prima;
- Maior produtividade: produzir mais com os mesmos insumos;
- Maior agilidade: capacidade de adaptar-se às novas demandas do mercado e dos clientes, aumentando a competitividade;
- Melhor capacidade de tomar decisões: a qualidade da informação, em tempo real, com auxílio de Inteligência Artificial (IA) e análise de dados;
- Maior segurança: a segurança dos profissionais e dos ativos é aspecto inegociável nas empresas do futuro;
- Sustentabilidade: mínimo impacto ambiental e pegada de carbono neutra ou até mesmo positiva são hoje demandas recorrentes de clientes, sociedade, mercado e acionistas.
Essa revolução digital tem sido chamada de Indústria 4.0, que necessitará de uma nova plataforma de conectividade rápida, ubíqua, flexível, confiável, segura e à prova de futuro, para conectar máquinas, coisas e pessoas. O nome dessa plataforma é 5G; as soluções de conectividade atuais resolvem demandas pontuais, mas não permitem a escala necessária para habilitar todas as aplicações dos próximos dez anos da indústria.
Um estudo do Nokia Bell Labs, instituto de consultoria, pesquisa e desenvolvimento da Nokia, estima que as indústrias que adotarem rapidamente o que chamamos de 5G+ — aplicações digitais habilitadas pelo 5G — tendem a aumentar sua lucratividade em até 11 vezes. E essa lucratividade vem justamente dos impactos para o negócio por capturar novas oportunidades, produzir com menor custo, minimizar paradas por acidentes, obter mais velocidade no lançamento de novos produtos etc.
topin: Muitas empresas ainda não têm familiaridade com tecnologias de redes móveis. Como funciona a instalação de uma rede privada 5G em um ambiente industrial?
Renato Bueno: Conectividade sem fio em ambiente industrial hoje é sinônimo de Wi-Fi (Wireless Fidelity). E essa tecnologia permanecerá relevante nos próximos anos, seja para conexão de pessoas em ambientes de descanso e escritórios ou para integração de equipamentos e dispositivos legados. A plataforma para a Internet das Coisas Industrial (IIoT), entretanto, passará a ser o 5G.
A Nokia desenvolveu uma plataforma de redes privativas chamada Nokia Digital Automation Cloud (NDAC), cujo principal objetivo é a simplicidade na instalação e operação. A ideia é que profissionais com experiência na gestão de uma rede Wi-Fi sejam capazes de operar uma rede 5G. Na figura abaixo, pode-se entender os principais componentes dessa rede:
- Servidor de Borda local: instalado localmente, assegura alta disponibilidade e segurança para aplicações críticas e baixa latência, permitindo conexão com demais aplicações locais e em Nuvem;
- Pontos de acesso: rádios 4G e 5G de capacidades distintas, conforme necessidade de cobertura e capacidade;
- Plataforma de gestão: viabiliza o gerenciamento e Acordos de Nível de Serviço (SLAs) críticos da indústria;
- Dispositivos: gateways ou dispositivos — como smartphones e sensores — que conectarão trabalhadores, robôs e drones a suas aplicações.
O processo de lançamento de uma rede 5G é bastante simples e pode ser resumido dessa forma:
- Mapeamento das necessidades: é muito importante a construção de um roadmap de digitalização, um plano de transformação digital que envolva processos, pessoas, habilidades, negócio e tecnologia. Esse primeiro passo, apesar de não ter relação direta com a tecnologia 5G, trará clareza para os objetivos estratégicos do projeto — [de acordo com] seus KPIs (Indicadores-Chave de Desempenho) financeiros e operacionais — e permitirá um correto dimensionamento da plataforma de conectividade e seus requisitos de capacidade, latência e cobertura.
- Definição da frequência: o Brasil hoje é privilegiado na América Latina quanto à disponibilidade de espectro para uso privativo. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) vem fazendo um trabalho muito consistente nesse setor. São muitas as possibilidades e podemos auxiliar nessa compreensão e planejamento.
- Planejamento de rede: um planejamento de radiofrequência adequado é fundamental para assegurar o correto dimensionamento de pontos de acesso.
topin: Atualmente, é muito comum que sensores e atuadores existentes se comuniquem com Controladores Lógico Programáveis (CLPs) por meio de cabos ou redes industriais no chão de fábrica. Com a introdução do 5G neste ambiente, como se dará a integração de todos estes elementos?
Renato Bueno: A solução tradicional em um ambiente industrial é a construção de redes cabeadas, que brindam confiabilidade, capacidade e tempo de resposta necessários para operações críticas de automação e robótica. Redes privativas 5G, com features como URLLC (Comunicação de Baixa Latência Ultraconfiável), assegurarão tempos de resposta e confiabilidade equivalentes às cabeadas, porém com a flexibilidade de uma rede sem fio.
Isso permite uma economia de custos na construção de infraestruturas fixas e flexibilidade e agilidade na readequação de linhas de produção. Adicionalmente, nossas soluções hoje suportam protocolos típicos do ambiente industrial, como Profinet ou Ethercat, que podem ser transportados de forma transparente sobre a rede 5G.
topin: Temos visto anúncios em todo o mundo sobre lançamentos de redes industriais de 5G. Qual a maturidade da tecnologia e quão avançada está no Brasil?
Renato Bueno: O conceito de redes privativas 4G e 5G é antigo, tendo sido implantado pela primeira vez em 2012 na Mineradora Rio Tinto, na Austrália. Ela precisava gerenciar seis redes paralelas, que foram substituídas por uma rede privada LTE (Long Term Evolution). Desde então, implantamos mais de 450 redes privativas em todo o mundo — algumas estão entre as maiores redes implantadas na América Latina — em setores de energia, mineradoras, unidades flutuantes de armazenamento e transferência (FPSOs), refinarias, portos e alimentos e bebidas.
Um caso extremamente relevante é o projeto de rede privativa implantado pela Neoenergia em Atibaia, uma rede crítica para automatização da operação, manutenção e controle da rede de distribuição no município. O 5G, apesar de ainda não estar disponível nas redes públicas das operadoras, é uma tecnologia madura, disponível comercialmente há anos e com amplo ecossistema de dispositivos, com implantação de forma rápida no Brasil.