Especialista em Desenvolvimento de Negócios da Siemens e porta-voz da divisão de Indústria Digital (DI), Robson Santos promove os benefícios do 5G para o ambiente industrial.
Brasil – Robson Paulo dos Santos é desenvolvedor de Negócios na divisão de Automação da Siemens para parceiros distribuidores e integradores de sistemas, além de porta-voz do 5G Industrial na Siemens Brasil, à frente das principais iniciativas da companhia e seus clientes com a nova tecnologia.
Engenheiro eletricista com mais de 17 anos de experiência no mercado de automação industrial, Robson Santos conhece profundamente as novas tecnologias de conectividade e suas possibilidades de aplicação no ambiente industrial para impulsionar a produtividade e reduzir custos em diversas áreas.
topin: Como a implantação de redes públicas e privadas de 5G pode ajudar a indústria?
Robson Santos: O 5G se divide em duas grandes frentes: privativo e público. O público é o que a gente vai utilizar nos nossos smartphones para conseguir mais velocidade, usar aplicativos que deem mais qualidade a qualquer tipo de entretenimento ou solução tecnológica do dia a dia.
Quando a gente fala de 5G privado, trata-se de uma rede própria de uma empresa, que abastece um ambiente específico com conectividade sem fio. Com isso, é possível concentrar as informações dentro de um espaço físico, de modo que não saiam desse ambiente, por questão de segurança.
Outro aspecto é a performance; a indústria é um pouco diferente do nosso dia a dia: se eu mando um e-mail ou mensagem por aplicativo, e isso chega depois de cinco minutos, não tem nenhum problema. Mas na indústria, se uma máquina ou dispositivo envia uma informação, ela não pode se perder, tem que ser entregue exatamente no tempo determinado. Muitas vezes, não é de um ou dois segundos, mas de milissegundos. Isso nós chamamos de baixa latência, que a rede privativa se propõe a entregar. É a comunicação rápida e confiável entre equipamentos.
Se você tem uma embalagem de um produto cortada de uma forma muitíssimo sincronizada, em uma linha de produção, a informação de corte tem que ser entregue de forma assertiva e com sincronismo. Se eu mandar uma informação de corte e a máquina demorar cinco minutos para receber, eu perco um monte de material; não vai cortar no momento certo, acabo não tendo a embalagem com a qualidade que quero ou quantidade que preciso.
Esse é o cenário da indústria, que precisa de uma comunicação rápida e confiável para que os equipamentos envolvidos em um processo de produção se conversem de forma assertiva. São esses os aspectos do 5G privativo: comunicação rápida e flexível. As máquinas vão se conversar rapidamente.
Eu posso movimentar máquinas dentro de um ambiente industrial, no chão de fábrica. Por exemplo, eu estou fabricando o “carro A” e agora passo a fabricar o “carro B”, que tem um setup de linha de produção totalmente diferente do “A”. Imagine ter que mudar todas as máquinas, reestruturar os cabos. O 5G, justamente por ser uma forma de comunicação sem fio, oferece toda essa flexibilidade e agilidade para uma montadora de veículos e eleva muito o nível de confiança e competitividade, porque são produzidos carros diferentes e o setup de linha é alterado rapidamente.
topin: Essa questão da baixa latência é importante, tanto que a Computação de Borda tem se desenvolvido, que é a diminuição da distância física para reduzir ainda mais a latência.
Robson Santos: Exatamente. O Edge Computing, que a Siemens também tem colocado no mercado, visa justamente isso: ser uma solução que traz o processamento mais para perto da máquina. No nosso celular, por exemplo, quando a gente clica em um aplicativo para atualizar, demora alguns minutos ou segundos, e não tem nenhum problema. Mas imagine uma melhoria que precise ser aplicada nas máquinas durante o momento de produção. Precisa ser em tempo real, e o Edge Computing proporciona justamente isso.
Ele traz o processamento para perto de uma máquina, que é melhorada enquanto a produção acontece e em um tempo extremamente baixo. Usar o Edge Computing em conjunto com o 5G proporciona rápido processamento, velocidade de comunicação ainda maior e flexibilidade, porque os cabos são deixados de lado e passa-se a usar o ar como meio de comunicação.
topin: Qual é a importância da transformação digital das empresas, com a adoção de tecnologias como IA, IoT, analytics, gêmeos digitais e AR? Como isso pode alavancar sua produtividade?
Robson Santos: Todos esses cases proporcionam uma indústria mais competitiva, com um custo de mão de obra mais baixo, profissionais mais especializados e produtos entregues mais rapidamente para o mercado. A Inteligência Artificial, por exemplo, é a capacidade de conseguir agregar mais comportamento humano dentro do processo, de forma automática. Agora podemos aplicar um algoritmo de Inteligência Artificial em uma linha de produção, que começa a utilizar sistemas automatizados para fazer uma seleção de produtos que muitas vezes só o olho humano conseguiria distinguir.
A gente começa a trabalhar com padrões, aprendizado contínuo da máquina, identificação de tendências, comportamento da linha de produção e do consumo humano – para adaptar à linha de produção –, e tudo isso torna a indústria mais competitiva frente ao mercado internacional.
Aplicar todos esses cases dentro do cenário industrial deixa a indústria mais à frente. Mas como eu aplico, o que eu uso como infraestrutura? Eu preciso de velocidade e flexibilidade de comunicação sem fio, o que nos leva de volta ao 5G, uma tecnologia habilitadora de uma série de cases e componentes disruptivos: IA, Realidade Aumentada, Edge Computing, Machine Learning. O 5G é um grande habilitador de todas essas e outras tecnologias disruptivas que o chão de fábrica pode utilizar.
topin: O que a Siemens tem desenvolvido nos últimos tempos em relação ao 5G?
Robson Santos: A Siemens foi a primeira empresa a colocar no mercado um roteador industrial habilitado para o 5G. Ele permite que qualquer sistema sem possibilidades de trocar informações nesse padrão, fale em 5G. Na indústria, eu posso me deparar com um robô, máquina ou equipamento sem conectividade 5G nativa, habilitada. O roteador Scalance MUM torna possível a qualquer dispositivo no chão de fábrica conversar via tecnologia 5G, mesmo que só tenha, por exemplo, uma porta Ethernet ou conexão WiFi.
topin: Não é preciso investir em outros equipamentos novamente.
Robson Santos: Exatamente, você não precisa de um novo dispositivo ou máquina com um novo conceito de conectividade; você só agrega um componente a essa máquina, que a torna 5G e consegue trocar informações 5G entre diferentes equipamentos, entre veículos autônomos – os Automated Guided Vehicle (AGV) –, que circulam entre o processo de produção, pegando material de um lugar e deixando em outro, levando um veículo semimontado de uma parte para a outra.
A gente conecta e habilita esses dispositivos a falar em 5G por meio do Scalance MUM, lançado pela Siemens em 2021 como o primeiro roteador industrial que habilita o 5G na indústria. Um equipamento doméstico não suportaria o impacto: interferências eletromagnéticas, partículas suspensas, vestígios de pó, líquidos; então, o diferencial é ele ser preparado justamente para aguentar um ambiente de uso bem agressivo.
A Siemens também está trabalhando em soluções que habilitam a rede 5G privativa para o cliente final – uma automobilística, uma indústria farmacêutica, alimentícia. A proposta é termos todos os equipamentos para criar essa rede 5G privativa.
topin: Existe alguma estimativa de quanto o 5G Industrial poderá proporcionar em termos de redução de custo total de propriedade (TCO) e ganho de produtividade para o setor, num cenário de modernização para evolução de um sistema tradicional com controle lógico programável (CLP) cabeado para um sistema com conectividade sem fio 5G com IA e Computação em Nuvem?
Robson Santos: Existem alguns dados hoje que falam em torno de 30% de produtividade com a aplicação, não de todas, mas de algumas tecnologias disruptivas como 5G e IA. O ambiente do Brasil, pelo menos, do qual a gente mais tem conhecimento, mostra que algumas empresas, como montadoras, por exemplo, conseguiram redução na casa de 15% a 18% de custos de produção aplicando tecnologias nem tão disruptivas assim, mas sem fio, no chão de fábrica.
Uma grande automobilística aqui no Brasil aplicou uma solução WiFi e conseguiu redução na casa de 15% de custos de produção para a mudança de setup de linha. É como o exemplo da montadora: para produzir um carro que exige uma nova configuração das máquinas na linha de produção, é preciso trocar “máquina A” com “máquina B”, “máquina C” com “máquina D”, e tudo isso tem custo de infraestrutura e mão de obra.
Esse valor foi reduzido entre 15% e 18% com a aplicação de soluções sem fio nesse case real. Imagine se a gente pensar em soluções de 5G, Inteligência Artificial, Realidade Aumentada. São valores que, segundo pesquisas, podem chegar acima de 30% na redução do custo de produção.
topin: É um retorno que paga o investimento relativamente rápido.
Robson Santos: Relativamente rápido. Exige, sim, investimento prévio, maturação da tecnologia no chão de fábrica, aprendizado. Tem que aplicar, entender, contornar possíveis falhas, mas é algo que só vai acontecer quando for aplicada. A indústria precisa se preparar para isso, seja do ponto de vista financeiro, seja do técnico.
Treinar pessoas, direcionar equipes de inovação dentro do seus times para não ficarem atrasadas em toda essa revolução, que acontece de forma muito rápida; às vezes não é tão visível em nosso dia a dia essa mudança, mas a indústria está inovando e se tornando mais competitiva com o passar do tempo.
topin: Qual é o status das implantações de redes privadas de 5G na região?
Robson Santos: Nós tivemos o leilão da Anatel recentemente, em 2021, que já tornou possível que algumas operadoras de telefonia móvel consigam as frequências para trabalhar com o 5G público. Há ainda muitos testes, provas de conceito acontecendo no cenário industrial.
Hoje, a Siemens, juntamente com algumas operadoras de telefonia móvel e até mesmo fabricantes de infraestrutura 5G, trabalha em pelo menos quatro provas de conceito acontecendo em tempo real para tornar possível o uso da tecnologia 5G privativa. São empresas dos mais diferentes segmentos – automobilística, alimentos, bebidas, agro –, todas investindo e testando a tecnologia 5G dentro de seus ambientes, buscando cases que tragam melhorias ao seu processo.
Em todos esses segmentos, há pelo menos uma empresa fazendo testes com tecnologia 5G implementada. A Siemens, inclusive, colocou alguns para rodar na sua própria fábrica, em Jundiaí, São Paulo, com o apoio de alguns provedores de 5G privativo, a gente experimentou algumas formas de melhorar a nossa produção usando o 5G. Então, existe essa possibilidade e empresas trabalhando com esses testes no dia a dia.
topin: Quais desafios impedem uma maior adoção desse tipo de solução? Seria essa questão da maturação que você colocou?
Robson Santos: Empresários precisam ter um retorno sobre o investimento bem estabelecido, entender que a produção vai melhorar e em quanto tempo. Então, além do desafio financeiro de investimento em uma tecnologia nova que se propõe a melhorar o seu processo, também é preciso investir em pessoas, equipes que vão trabalhar a maturação dessa tecnologia em seu ambiente.
Vão precisar de profissionais para colocar essa tecnologia para funcionar, estudar e aplicar as melhorias no processo, integrar isso e também contratar empresas que possam dar consultoria e trabalhar com a venda de equipamentos para esse tipo de tecnologia também.
A Siemens é uma dessas empresas, e tem ajudado muitas outras a conseguir alcançar essa maturação da tecnologia dentro do chão de fábrica. Então, existem, sim, desafios, tanto do âmbito financeiro quanto do técnico, de conhecimento.
topin: Como é tudo muito novo, é preciso haver esse trabalho de orientação nesse primeiro momento.
Robson Santos: Sim, precisa de orientação, consultoria, pessoas debruçadas sobre o tema, não só para estudar, mas para acompanhar as novidades que estão acontecendo. A evolução é constante, a gente está fazendo testes e coisas novas estão surgindo a todo momento, a corrida em prol da Indústria 4.0 não parou, não estacionou, continua nos bastidores, sempre acontecendo.
DI e SI da Siemens, por Robson Santos
Robson Santos: A Siemens é uma empresa centenária, hoje dividida em dois grandes setores: atendimento à Indústria Digital (Digital Industry), da qual eu faço parte, e à Infraestrutura de Cidades Inteligentes (Smart Infrastructure) – a SI e a DI. Hoje, ambas têm ações que fazem frente ao 5G, seja para aplicação na indústria, seja para cidades inteligentes.
ESG e DEGREE
As políticas de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG) da Siemens fazem parte de uma estrutura de sustentabilidade da empresa chamada DEGREE, acrônimo para Descarbonização, Ética, Governança, Recursos com uso eficiente, Equidade e Empregabilidade, em consonância com 10 princípios do Pacto Global e 17 objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) para todos os stakeholders.